quarta-feira, 21 de novembro de 2012

E o Caldas Country 2012?



Por Luciano Beregeno* 



Todos nós assistimos bestificados tudo o que aconteceu no Caldas Country 2012. Tudo, do lixo ao luxo. É inegável que o festival se consolidou como o maior evento sertanejo do País e colocou Caldas Novas no centro de uma polêmica sobre os benefícios e os malefícios para a cidade.

Desde a quarta-feira, 14 de novembro, a cidade começou a perceber o que seria a edição do ano. Corpos nus bem torneados de moças e rapazes, na verdade, meninas e meninos na flor da idade, já desfilavam pela cidade, sequiosos, ávidos por diversão em todos os níveis. O clima esquentou e os ânimos exaltados venceram a censura. Pulou-se sobre o container que a PM Turística usaria como base; pulou-se sobre capoos, pulou-se sobre ele, sobre ela, numa resposta frenética e afirmativa à pergunta: E aí, comeu?

Se devoraram (me permito a quebra da norma gramatical em prol da literalidade). Eis a verdade plástica. Foi um festim sem medidas e mesuras. Um nababesco e despudorado show de imoralidade, amoralidade, sexo, violência, morte e desrespeito, regado a muita droga, indignação e... sucesso! Sim, sucesso absoluto e inegável. De público e arrecadação. E é aqui que damos início ao nosso dilema. Foi bom pra você?

Foi ótimo! Me mandei da cidade pra junto da minha família na capital da República, mas antes, aluguei meu apê pra uma galera bonita que foi pra cidade. Lucrei. Então, foi ótimo! É essa perspectiva que temos que observar ante a ilustração que fiz sobre a vantagem que eu recebi.

O Caldas Country hoje é patrimônio da cidade. Patrimônio de Goiás. E falta pouco pra ser Patrimônio do Brasil, um status que deve ser alcançado em três ou quatro edições. E isso é necessário para Caldas Novas. A dinâmica econômica e social da cidade exige um festival como CC para satisfazer a megalomania característica da goianidade caldense.

O problema ,e que o festival cresceu muito e a cidade não se preparou pra ele. Culpa de quem? Culpa da prefeitura, que não aceitou o caráter de irreversibilidade do evento e não usou o evento para satisfazer as necessidades da população.

Culpa do Ministério Público que não teve amplitude na interpretação do cenário do que seria o evento a cada nova edição, devendo usar os buracos dos anos passados nos acordos de vontade dos anos vindouros.

Culpa da PM que se permitiu ser omissa sob as ordens nascidas do interesse privado que se sobrepõe às necessidades coletivas.

Culpa do Governo do Estado que é provocado a despejar dinheiro na realização do caldas Country, mas abre mão do controle compartilhado.

Culpa do Governo Federal que despeja rios de dinheiro na realização do evento e também se omite enquanto poder organizador e regulador.

Culpa dos organizadores, que ainda enxergam Caldas Novas apenas como canal de lucro, não devolvendo à comunidade, parte do que ela lhes dá. Nos 363 dias restantes do ano, a organização do Caldas Country praticamente inexiste em Caldas Novas e nunca se faz presente em qualquer trabalho que seja de educação, preparação e até mesmo investimentos sociais. É uma relação vampírica.

Culpa da empresária Magda Mofatto, que também morde no lucro do Caldas Country e se comporta como seus organizadores.

Culpa da deputada Magda Mofatto, que é porta-voz das necessidades do povo de Caldas Novas; agente política altamente inserida na teia de interesses do Caldas Country e representante do Estado de Goiás na Câmara dos Deputados.

Culpa do deputado Evandro Magal, que na condição de parlamentar nunca capitaneou uma discussão com a comunidade, sobre os rumos do festival e seus efeitos sobre a vida do cidadão.

Culpa da Câmara de Vereadores, que subservientemente se omite das discussões e abre mão das audiências públicas acerca do tema.

Culpa da imprensa, que ainda não se descobriu Imprensa e se restringe a uma função meramente reportadora de fatos.

Culpa da população, que nunca se organizou para discutir o Caldas Country, exigindo participação de todos os entes citados anteriormente aqui e outros que eu ainda poderia levar mais três páginas culpando.

Culpa da Justiça, dos patrocinadores, dos pais e mães que não sabem educar, enfim, culpas.

Culpas existem muitas. Mas o momento de se culpar este ou aquele, é insignificante em face da importância do evento.

Caldas Novas precisa do Caldas Country. E precisa também discutir com todos os envolvidos, o modelo de evento que deverá acontecer ano que vem. E nos ano seguinte, e no outro, e no outro. Uma discussão séria, comprometida, racional, sem extremismos. Uma discussão que colocará o evento nos eixos e devolverá à cidade, a dignidade que lhe foi retirada este ano, quando sua imagem ficou associada, nacionalmente, ao casal transando – transando não, trepando mesmo, como cães no cio – na rua, sob olhares de todos os matizes. Dignidade destruída pela barbárie estampada no You Tube, pelo vídeo de um automóvel sendo consumido pelas chamas e as pessoas se divertindo ao redor do veículo, como se fosse apenas mais uma fogueira, um fogareiro a mais.

Caldas Novas não é a cidade do “onde tudo pode”e “aqui é assim”. Não mesmo. Existe lei e existe quem a faça ser cumprida. E se, em algum momento se confirmar a denúncia de que a PM não pode atuar sob risco de demissão, que a população empunhe paus e pedras, identifique os mandantes e os linchem em praça pública. Eu mesmo me ofereceria para construir a guilhotina.



* Luciano Beregeno é Jornalista, ex-secretário de Comunicação de Caldas Novas.


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Brasília, DF, Brazil
Bem, sou um cara simples, buscando coisas simples, mas com muita peculiaridade... Como Jornalista levo a sério meu trabalho e, sem falsa modéstia, o faço muito bem feito. Não tomem isso como arrogância ou prepotência. É que respeito minha profissão, muitas vezes mais que o próprio ser humano. Gosto de ser Jornalista, amo a profissão e a ela me dediquei a vida toda e me dedicarei enquanto me fôr possível exercê-la ou ela exercer seu fascínio sobre mim. Para mim, ser Jornalista, é uma honra! Mas não se engane... faço o que tem que ser feito, e não o que a maioria gostaria que eu fizesse!