terça-feira, 17 de junho de 2008

Pra esquentar a massa cinzenta...


Do mito, da política e dos vampiros

Política é jogo pra gente grande, gente que tem visão, que enxerga longe e vê aquilo que a grande maioria não consegue ver. Política é a arte de conquistar, manter e exercer o poder, como bem colocou Maquiavel. É por essa característica que a política não deve ser da alçada dos menores de moral, dos despreparados e dos rastejantes – termo que evito o uso, mas reconheço a propriedade para se referir àquele que abraça a causa sem entendê-la ou em sequer sabê-la, usando todo tipo de subterfúgio para provocar algum efeito, seja ele qual for. A estes se atribuem apenas as ações secundárias.

Na defesa do meu ponto de vista, o argumento principal é o mítico que envolve a política e o político. Pode até parecer contraditório face à afirmação do primeiro parágrafo o que vou dizer agora, mas, o político não é nenhum ser superior, dotado de algum dom sobrenatural. Muito pelo contrário, é tão vulnerável como qualquer outro Homo sapiens-sapiens.

Só que esta é uma verdade exclusiva e para poucos pois, grande parte das massas ainda vê este ou aquele detentor de mandato, como um esteio, um suporte, um apoio, uma tábua de salvação, o que comumente, desemboca em uma relação antidemocrática de dominação e subserviência.

Aos olhos do homem comum o político é quase intocável. Quase não, é intocável! A máxima tem reforço entre as camadas menos favorecidas da população que crêem piamente que nem mesmo o braço da Lei ou a bela Thémis possam alcançá-los. E mais, atribuem a este ser político o poder de vida e morte, para o bem ou para mau. É o mito que nasce, cresce e desaparece com o líder.

Em regiões mais afastadas dos grandes centros do País e, principalmente no interior do Norte e Nordeste brasileiros, os míticos coronéis da política se fazem presentes e controlando seus currais eleitorais sob a batida do chicote e o canto da chibata, hoje representados pelo poder econômico. Essa dependência é que dá sobrevida ao mito e garante sua perpetuação, enquanto existir o domínio ou a dependência extrema de um e outro.

Caracteristicamente, o dependente tem em relação ao dominante a visão do devoto em relação ao santo ou a seu Deus. É nele que se encerra o bem e o mau e por ele, as cercas morais são justificadamente derrubadas e a lógica maniqueísta subvertida. Tudo por uma boa razão: a conquista de um objetivo!

Este ano a eleição que se aproxima começa a produzir seus primeiros deuses e clãs. No totem ao centro da tribo, dança doida a famigerada turba a espera de seu senhor. É mais ou menos isso que vejo quando olho a atuação dos grupos, só quem sem o glamour do Clã ou o totem ao centro. Apenas a tribo permanece.

Na defesa de um ou outro nome, o grupo se articula, execra publicamente o adversário e o transforma na representação abjeta de toda imperfeição. E assim dá início ao massacre. Arregimentando seguidores e toda sorte de frustrados, se insurgem contra o poder estabelecido na ilusão de estabelecer outro poder. Mera divergência de pontos de vista, uma vez que impreterivelmente, acabam não fazendo o que deve ser feito.

Enquanto a carnificina e o festim de ataques continuam, nas sombras, os articuladores se movimentam e dão continuidade aos encontros em locais incertos e não sabidos, recheados da aura de mistério própria do mito. Reuniões secretas, conversas codificadas e digressões plausíveis são parte da liturgia do mito político e eleitoral, totalmente contrário ao que preconizava a mãe democracia no berço da Grécia Antiga.

Os grupos por sua vez, continuam a trajetória da campanha infame, sem muito atentar ao que acontece no pátio, bem próximo da varanda, onde as conversas prosseguem e podem, a qualquer instante, alçar o inimigo ao posto de mais novo aliado.

Aqui cabe o devaneio: se o inimigo acossado pela manhã é o aliado deificado à tarde, como o grupo resiste a esta mudança sem perder sua característica de grupamento humano?

A resposta talvez nem exija tanto esforço.

Ao grupo não cabe o julgamento moral. Ele não é instância a ser consultada apesar de acreditar que o seja. O grupo é apenas ferramenta de pressão em busca de acordos individuais melhores. O grupo é apenas a força bruta do discurso, pura massa de manobra. A ele não compete questionar o líder ou suas posições. A ele não compete questionar decisões. Cabe a ele, única e exclusivamente, obedecer e fazer acontecer a vontade de seu líder.

A guerrilha continua e, em breve, poderemos ter sob o teto, lobisomens e vampiros. Se este será um jogo de força ou estratégia, saberemos apenas ao final do último round.

Semana que vem eu volto, ok?
Inté!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Por quem meus sinos dobram

Eis aí uma excelente pergunta para os candidatos se fazerem a partir de agora, já que estão legalmente autorizados a partirem para o confronto nas convenções partidárias que escolherão os nomes da disputa de outubro deste ano. A resposta, sincera e verdadeira, acredito que calará fundo no peito de pelo menos um, assim espero. Mas de quem?

Esta outra resposta já é mais complicada, bem mais complicada...

Responder a este questionamento dependerá muito do perfil de quem estivermos falando e aí cabe uma consideração: aquele que maior preocupação demonstrar, verdadeiramente, pode e deve ser o nosso candidato, enquanto eleitores. Só que tão simples resposta, nos remete a outra questão: como saber quem está sendo verdadeiro, com tantos discursos calcados na emoção (falsa emoção) religiosa e nos valores da família (???) ? Aí meu amigo, o que vale é o critério que cada um de nós elege para discernir o bom do ruim, o bem do mal, o certo do errado e o positivo do negativo.

Um vão pelo conjunto da obra. Mas que obra? O que já foi feito? Eu diria que “conjunto da obra” entende-se tudo o que pode ser atribuído ao candidato, de bom e ruim. No cálculo simplista da subtração, o resultado do maior efeito positivo para a comunidade é que teria maior peso. Complicado?

Sim, bastante.

Eleição é coisa séria e isto, já ouvimos uma centena de vezes em campanhas contra a corrupção eleitoral de candidatos e eleitores. Mas nunca é demais reafirmar, enfatizar, balançar os braços, espumar a boca e pular que nem doido quando o assunto é “eleição vs corrupção”. É dever, obrigação, fardo, responsa braba de cada um lutar para que a lambança de uns poucos não afete a vida da maioria. A isso, toda atenção é pouca.

E todos somos testemunhas de que quanto mais lutamos contra a corrupção eleitoral, mais percebemos que temos que lutar ainda mais. E aí descobrimos que temos que lutar também não só contra as corrupções eleitorais, mas também contra as grandes corrupções e principalmente, contra as pequenas. Sim, as pequenas corrupções a que nos permitimos no dia-a-dia, traduzidas no famoso “jeitinho mais fácil”, como é quando um político – seja ele de qual casta for – tira da cadeia aquele vagaba que a PM, sobrecarregada de tarefas e mal remunerada, prendeu por roubo, furto ou tráfico de entorpecentes. Ou seja, um soldado, arriscando a própria vida em troca de um mísero soldo, prende o marginal e nem bem terminou de lavrar a ocorrência, já estão lá a mãe – pobre mãe desesperada e cujos sentimentos são nobres, entendo bem – acompanhada pelo desqualificado político que pouco se preocupa com a integridade do conjunto e tão somente, com o voto que pensa ter conseguido na próxima eleição.

Outro exemplo, mas que ao seu modo, representa o descaso com o dinheiro público: enquanto centenas de pessoas padecem pela falta de medicamentos, gestores públicos muito mal intencionados superfaturam compras de medicamentos, compram mais que o necessário para garantir maior propina e, remédios que poderiam salvar vidas, acabam jogados nos lixões ou escondidos, em algum galpão escuro longe das vistas da lei. Isso acontece com mais freqüência do que se sabe e basta uma pesquisa leve nas notícias do dia para a dolorida constatação.

É triste uma realidade tão crua assim, mas é fato. A corrupção custa caro à sociedade. Um estudo do professor Marcos Fernandes, coordenador da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e autor de A Economia Política da Corrupção no Brasil, mostra que a corrupção consome algo entre R$ 9,68 bilhões por ano do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, isto é, quase a metade dos R$ 20 bilhões que representam o total de investimentos previstos no orçamento federal de 2006, ano-base do estudo. Ele continua: “Com o valor subtraído anualmente dos cofres públicos municipais, estaduais e federais, seria possível construir 538 mil casas populares, que poderiam propiciar moradia de boa qualidade a 2,1 milhões de brasileiros”.

Os números assustam, mas são parte de uma rotina que a cada dia torna a realidade mais nua e nos tira a capacidade de nos indignarmos com o que acontece. É preciso reagir e se voltar contra o menor sinal de achincalhe do sagrado direito de escolhermos, bem escolhidos, os nossos representantes.

Não podemos nos perder em pequenas vendas de pedaços de nossas consciências em troca das migalhas e da desobrigação. Não podemos nos perder pelos falsos discursos e pelos falsos encantos de belas palavras – ainda que mal colocadas – a dizer aquilo que muitos queremos ouvir e acreditar.

Ou mudamos nós, os eleitores, ou abrimos mão definitivamente das liberdades com as quais muitos sonharam, nos anos de ferro da ditadura militar. Nossos sinos devem se dobrar por nosso futuro!

É, por hoje é isso aí... vejo vocês depois!

;-)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Junho chegou, e com ele o inverno e o prenúncio de uma eleição

Apesar de um fim de semana marcado por contratempos e dissabores (hoje sim, segunda-feira, é meu domingo!), algo de agradável marcou meu fim de semana. No caderno Aliás do Estadão de domingo, uma entrevista com uma das mais renomadas escritoras da atualidade e representantes do feminismo do Século XX, Camille Paglia. É a 20ª intelectual mais influente do mundo segundo publicações como a americana Foreign Policy e a inglesa Prospect.

Na entrevista Paglia analisa a corrida eleitoral americana e traça um perfil de cada um dos candidatos e do atual presidente norte-americano, George W. Bush. A sobriedade de Paglia chama a atenção pela crueza e lucidez ao traçar tais perfis e a sinceridade pela qual se declara pró Barak Obama.

Mas de toda a entrevista, especial notação faço a uma assertiva lançada pela escritora sobre a divisão da cena política estadunidense, quando ela diz que “há muita raiva no ar” para explicar a divisão de uma nação pela raiva. Permito-me extrair parte da resposta à primeira pergunta sobre o porquê dela apoiar Obama à Casa Branca: “Ele me impressionou muito pela maneira como se mostra decidido a resolver a divisão profunda que há entre os Partidos Republicano e Democrata. Essa divisão, que venho criticando há alguns anos, paralisou Washington. É desse espírito que vem aquilo que George W. Bush disse pouco antes da Guerra do Iraque, “você está conosco ou contra nós”. A política americana anda maniqueísta e a cisão entre esquerda e direita chegou a um ponto em que ninguém se entende mais”.

Se transplantarmos a análise de Paglia à cena local da política em Caldas Novas, não teremos algo muito diferente, resguardadas algumas diferenças profundas de natureza cultural (aqui não se discutem projetos políticos e sim, aspirações políticas) e eleitoral (o sistema político norte-americano torna a disputa bipolar entre Republicanos e Democratas, ao contrário do sistema político brasileiro que se perde na pulverização dos pês).

Tanto lá como cá, “há muita raiva no ar”, alimentada por anos de discórdia não entre grupos, mas entre personagens da cena eleitoral e política. Cá não temos o debate de ideais e projetos de Nação entre esquerda e direita (até porque nunca a esquerda brasileira foi tão direita em toda sua existência) e, reforçando, apenas as aspirações políticas locais, sem muitos ganhos para comunidades inteiras.

Agora, após anos de uma disputa política pessoalizada e personificada entre três expoentes apenas, o eleitor se depara com uma quarta liderança surgindo e obrigando a um processo de quase bipolarização da cena, ao ver as movimentações para composição de laços entre inimigos que já foram adversários políticos. Há algo de amedrontador nisso, como já disse em outra oportunidade.

Me preocupa profundamente a ausência de um projeto chamado Caldas Novas, até agora não pensado em conjunto. Singularmente vejo um prefeito eleito para um mandato tampão que visa corrigir uma distorção eleitoral, obrigado a arcar com o peso de erros cometidos outrora. Do outro lado vejo um discurso ainda mais preocupante de acusação pelo não fazer ou deixar de fazer, sem qualquer sombra da assunção de culpa pelo passado.

E mais: apesar dos esforços para que se recomponha a unidade a favor da sobrevivência de uma cidade, as vaidades pessoais continuam falando mais alto em busca dos velhos privilégios do poder.

Eis aí o caminho mais curto rumo à destruição!

Não discutir um novo projeto para uma nova cidade é um erro que não podemos nos permitir.

Nós todos, caldas-novenses ou não, mas que decidimos fazer daqui nosso Eldorado, temos a responsabilidade e o dever de cobrar daqueles que querem se dignar a nos representar no Executivo e Legislativo locais, posturas e projetos que os comprometam com a cidade, não com o poder.

Candidatos a prefeito, vereador ou presidentes de entidades de classe ou associações de moradores, todos têm o dever moral mínimo de respeitar e representar a coletividade. Todos, em todos os níveis de representação - e aqui recai sobre Ministério Público e Judiciário também uma responsabilidade sobrenatural de garantir o mínimo de dignidade à liberdade de pensamento expressão dos cidadãos, para pôr fim à era da mordaça e do patrulhamento ideológico, que ainda se fazem vergonhosamente presentes principalmente no conluio entre público e privado – devem se comprometer com a transformação da cidade em um lugar melhor para se viver.

Junho chegou!

E com ele veio o inverno e o prenúncio de uma nova disputa eleitoral. É preciso que nós, não-candidatos, saibamos muito bem o que, quando, como, por que e de quem cobrar esse comprometimento com a cidade!

Nos vemos em breve! Até lá...

Quem sou eu

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Brasília, DF, Brazil
Bem, sou um cara simples, buscando coisas simples, mas com muita peculiaridade... Como Jornalista levo a sério meu trabalho e, sem falsa modéstia, o faço muito bem feito. Não tomem isso como arrogância ou prepotência. É que respeito minha profissão, muitas vezes mais que o próprio ser humano. Gosto de ser Jornalista, amo a profissão e a ela me dediquei a vida toda e me dedicarei enquanto me fôr possível exercê-la ou ela exercer seu fascínio sobre mim. Para mim, ser Jornalista, é uma honra! Mas não se engane... faço o que tem que ser feito, e não o que a maioria gostaria que eu fizesse!