As pedras falam...
Quero me somar ao Ernane, Rogério, João Marques e demais defensores das ruas de pedras. Há 43 anos moro na histórica “Rua Mauá" (grifo e aspas são propositais mesmo!), no bairro do Bosque, e desde sempre a conheço assim: de pedras.
Mas estas pedras são muito mais que simples pedras! Elas formam uma grande e aconchegante colcha de retalhos. Cada uma um retalho que, se unindo a outro e outro, guardam e mantêm vivas histórias presentes e passadas.
Me recordo como se fosse ontem: muitas sequer sonhavam existir. Muitas outras eram só poeira. Mas a Mauá não, ela era “calçada” e imponente! Nem por isso deixara de abrigar, em suas margens, singelas casas - como a que vivi por muitos e bons anos ao lado da Dona Tôca e de meus irmãos.
Como uma mãezona, acolhera a todos que optaram por nela viver ou simplesmente transitar. Sempre tratou a todos por igual. Entre aquelas pedras corri, brinquei . Sobre elas vi transitar cavalos, carroças, bicicletas, lambretas, motos possantes, cincas, fusquinhas e até Mercedes. E os eventos? De quantos fora ela um grande palco, a começar pelos comícios do arena e do manda-brasa, realizados na venda do seu João Claúdio ou perto do bar do Carlão, ambos de saudosa memória? E a quantos que com dor e pranto, levando seus entes queridos para a última morada, ela também afaga?
Por essas pedras vi passar grandes e pequenos caminhantes. Nelas estão cravados pedaços de nossa história, da história de nossa gente. É tão fácil perceber isso... basta ter um pouco de sensibilidade e observar os espaçamentos que há entre elas... certamente verão neles, pequenos clipes dessa história.
Ah, sim! As pedras falam!
É verdade que hoje esta importante e querida rua, anda um pouco cansada, vítima que é das grandes jamantas que nela seguem sem um senão sequer das autoridades! Mesmo assim em nada inveja as ruas cobertas pela massa asfáltica. Afinal, a colcha de pedras amortece a água que cai da chuva e carinhosamente a acolhe em seus entremeios. Já as “modernas” têm a chuva por inimiga, capazes de lhes provocar cortes profundos e nem sempre socorridos a contento...
Então como poderia eu e outros, da Mauá ou de outras ruas que querem mutilar, ter postura diferente? Como apoiar tamanha insensatez, que usa a modernidade como manto? Que nossa memória não nos deixe esquecer que um dia, sob o mesmo manto, destruímos ou mutilamos importantes edificações e monumentos históricos, dentre os quais a praça Manoel Bonito e o seu magnífico Coreto...
Será que vamos insistir em cometer erros que jamais poderemos reparar?
Leilamar Costa – jornalista e orgulhosa moradora da Rua Mauá
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