Apesar de um fim de semana marcado por contratempos e dissabores (hoje sim, segunda-feira, é meu domingo!), algo de agradável marcou meu fim de semana. No caderno Aliás do Estadão de domingo, uma entrevista com uma das mais renomadas escritoras da atualidade e representantes do feminismo do Século XX, Camille Paglia. É a 20ª intelectual mais influente do mundo segundo publicações como a americana Foreign Policy e a inglesa Prospect.
Na entrevista Paglia analisa a corrida eleitoral americana e traça um perfil de cada um dos candidatos e do atual presidente norte-americano, George W. Bush. A sobriedade de Paglia chama a atenção pela crueza e lucidez ao traçar tais perfis e a sinceridade pela qual se declara pró Barak Obama.
Mas de toda a entrevista, especial notação faço a uma assertiva lançada pela escritora sobre a divisão da cena política estadunidense, quando ela diz que “há muita raiva no ar” para explicar a divisão de uma nação pela raiva. Permito-me extrair parte da resposta à primeira pergunta sobre o porquê dela apoiar Obama à Casa Branca: “Ele me impressionou muito pela maneira como se mostra decidido a resolver a divisão profunda que há entre os Partidos Republicano e Democrata. Essa divisão, que venho criticando há alguns anos, paralisou Washington. É desse espírito que vem aquilo que George W. Bush disse pouco antes da Guerra do Iraque, “você está conosco ou contra nós”. A política americana anda maniqueísta e a cisão entre esquerda e direita chegou a um ponto em que ninguém se entende mais”.
Se transplantarmos a análise de Paglia à cena local da política
Tanto lá como cá, “há muita raiva no ar”, alimentada por anos de discórdia não entre grupos, mas entre personagens da cena eleitoral e política. Cá não temos o debate de ideais e projetos de Nação entre esquerda e direita (até porque nunca a esquerda brasileira foi tão direita em toda sua existência) e, reforçando, apenas as aspirações políticas locais, sem muitos ganhos para comunidades inteiras.
Agora, após anos de uma disputa política pessoalizada e personificada entre três expoentes apenas, o eleitor se depara com uma quarta liderança surgindo e obrigando a um processo de quase bipolarização da cena, ao ver as movimentações para composição de laços entre inimigos que já foram adversários políticos. Há algo de amedrontador nisso, como já disse em outra oportunidade.
Me preocupa profundamente a ausência de um projeto chamado Caldas Novas, até agora não pensado
E mais: apesar dos esforços para que se recomponha a unidade a favor da sobrevivência de uma cidade, as vaidades pessoais continuam falando mais alto em busca dos velhos privilégios do poder.
Eis aí o caminho mais curto rumo à destruição!
Não discutir um novo projeto para uma nova cidade é um erro que não podemos nos permitir.
Nós todos, caldas-novenses ou não, mas que decidimos fazer daqui nosso Eldorado, temos a responsabilidade e o dever de cobrar daqueles que querem se dignar a nos representar no Executivo e Legislativo locais, posturas e projetos que os comprometam com a cidade, não com o poder.
Candidatos a prefeito, vereador ou presidentes de entidades de classe ou associações de moradores, todos têm o dever moral mínimo de respeitar e representar a coletividade. Todos, em todos os níveis de representação - e aqui recai sobre Ministério Público e Judiciário também uma responsabilidade sobrenatural de garantir o mínimo de dignidade à liberdade de pensamento expressão dos cidadãos, para pôr fim à era da mordaça e do patrulhamento ideológico, que ainda se fazem vergonhosamente presentes principalmente no conluio entre público e privado – devem se comprometer com a transformação da cidade em um lugar melhor para se viver.
Junho chegou!
E com ele veio o inverno e o prenúncio de uma nova disputa eleitoral. É preciso que nós, não-candidatos, saibamos muito bem o que, quando, como, por que e de quem cobrar esse comprometimento com a cidade!
Nos vemos em breve! Até lá...
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