Comportamento: "Reza a Lenda" bomba no Facebook e resgata memória de município do Triângulo Mineiro
Em alguns posts, como o de Jonas Alves, as imagens são verdadeiros Túneis do Tempo. |
Luciano Beregeno
da Redação
A frase é conhecida quando se quer indicar o fato sem mostrar a autoria. Mas, no caso de Araguari, município do Triângulo Mineiro a 570 da capital Belo Horizonte, o famoso "Reza a Lenda" se transformou em nome de um grupo no Facebook. Nele estão reunidos araguarinos nativos e outros por adoção, no resgate de memórias do cotidiano da cidade nos últimos 50 anos. É uma viagem ao passado mais e menos distante, que aos poucos, revela aspectos divertidos e únicos da comunidade e que se se tornam conhecidos pelas gerações mais novas. O grupo pode ser acessadoaqui, para quem tem uma conta na rede social.
Sem qualquer pretensão além do divertimento, o grupo foi criado pelo historiador Zenir Filho, como opção de "relax" entre os amigos mais próximos. O próprio fundador não esperava o sucesso da empreitada. "Na verdade eu imaginava que ficaria entre o Léo Vieira, eu, o Calvino, o Dione, a Beatriz dos Anjos e Raquel dos Anjos (minhas irmãs) e os amigos da época do Relicário. Não imaginava que tomaria esse vulto", conta Zenir. E realmente o grupo cresceu. Até o fechamento da matéria o grupo já possuía 1057 membros, em seus pouco mais de três dias de fundação.
Aos poucos os relatos vão trazendo a público preciosidades do dia a dia de uma Araguari que muitos apenas ouviram falar. Numa das postagens, o economista Leonardo Vieira lembrou da movimentação dos frequentadores do Pica Pau Country Club, um dos maiores em sua categoria na região. Foi o suficiente para que os comentários revivessem situações e experiências pessoais, relatadas abertamente e que passam a compor a memória da cidade, publicamente acessível. Nos comentários sobre o clube Pica Pau, o professor Christiano Póvoa, araguarino residente em Goiânia, lembrou: "Lembro de andar pelo Pica-Pau aos sábados, escutando A-Ha, Modern Talking, Barão Vermelho e outras boas músicas pelos auto-falantes e de pegar carona tanto na ida quanto na volta. Lembro de combinar com minha mãe que, se eu lavasse o carro no sábado pela manhã, ela me levaria e me buscaria no Pica-Pau. Imagina, eu com 13, 14 anos, lavando e encerando um Opala...e a hora que eu acabava, armava a maior chuva...".
Em outra postagem - mais da história da cidade, sempre introduzida pela chave "Reza a Lenda"- a ortodontista Fernanda Debs Diniz conta um pouco dos hábitos de uma juventude que viveu seu auge no fim dos anos 1970 até o início de 1990. "Reza a lenda que a moçada ia toda para a missa da Matriz (Senhor Bom Jesus da Cana Verde) aos domingos à noite,mas dizem que na hora do sermão a molecada ficava toda do lado de fora paquerando...reza a lenda...", enfatiza Fernanda.
Já Adriana Martins Campos, também ativa militante do Reza a Lenda, o grupo também tem função terapêutica. Em postagem recente ela vaticinou: Reza a lenda que este grupo está ativando a memória afetiva de alguns e com isso contribuindo para que um tal alemão Alzheimer, não te visite!!!rsrs". E se depender dos demais membros, além de afastar o
Alzheimer, muita alegria ainda está por vir.
E a importância do grupo não se restringe a apenas aos comentários. Por se tratarem de relatos testemunhais em sua maioria e alguns ainda acompanhados de fotografias, hoje guardadas em acervos particulares, o Reza a Lenda passa a compor os mecanismos de perpetuação e transmissão da história. Pelo menos é no que pensa o fundador do grupo. "Acho que sim, torço para que sim. Sou historiador, professor de história, então seria maravilhoso isso", avalia Zuenir Filho.Zenir não descarta a possibilidade de usar os relatos no grupo como material em sala de aula, uma vez considerar que os relatos são "muito vivos e emocionantes".
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